terça-feira, 7 de maio de 2013

Aos 60 anos...



Ainda estou meio pasma, esperando alguma mudança, alguma coisa chegar,  acho que a ficha ainda não caiu.
Minha mãe e a certidão de nascimento afirmam, completei 60 anos de vida. Que seja então...
São sessenta anos e não sessenta dias. Olhando o número assim, em valor absoluto, assusta. Não posso negar.
Aos sete anos, linda e sonhadora menina, eu já pensava sobre a idade.  Minha amiga Glorinha iria completar oito anos uns meses antes de mim e nós decoramos o poema do Casimiro de Abreu pra declamarmos no seu aniversário.  Confesso que tive inveja. Eu queria já ter aquele status.


MEUS OITO ANOS

(Casimiro de Abreu)

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

 

 

Nessa mesma época, ficava ouvindo música com minha mãe, que cantava muito durante sua lida diária, ouvia Miltinho com sua voz nasalizada louvar a mulher de 30. Também invejava essa maturidade.

MULHER DE 30
Você mulher
Que já viveu
Que já sofreu
Não minta
Um triste adeus
Nos olhos seus
A gente vê mulher de trinta
No meu olhar
Na minha voz
Um novo mundo sinta
É bom sonhar
Sonhemos nós
Eu e você
Mulher de trinta
Amanhã sempre vem
E o amanhã pode trazer alguém
.
Naqueles tempos, as meninas sonhavam com os 15 anos, mas isso não fazia parte das minhas prioridades. Os tempos eram mais duros e confusos. Eu adorava estudar, tinha descoberto a leitura, a poesia e a MPB.  Embora vivesse numa casa lotada e movimentada, tinha um horário escolar diferenciado e isso me dava muito tempo de deliciosa solidão. Passei batido também pelos 18, saindo do vestibular e pelos 21 preocupada com os estudos e empregos de meio período.

Quinze anos! é a idade das primeiras palpitações, a idade
dos sonhos, a idade das ilusões amorosas, a idade de Julieta; é a flor, é a vida, e a
esperança, o céu azul, o campo verde, o lago tranqüilo, a aurora que rompe, a calhandra
que canta, Romeu que desce a escada de seda, o último beijo que as brisas da manhã
ouvem e levam, como um eco, ao céu.

Aos 30, as premissas básicas estavam contempladas, estudo, trabalho, casamento, lar montado e o prêmio da maternidade. A vida ganha conteúdo e principalmente urgência. Aos 40 estava ainda renascendo com nova paixão e mais um filho.

 SONETO DE ANIVERSÁRIO
Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

Cheguei à meia idade, 50 anos, sem traumas, imaginando como seria a outra metade... Não acreditei nos rótulos.

CORTAR O TEMPO

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.


Agora a coisa fica diferente, acho que é um marco importante, cheguei à melhor idade (!?)  Agora tenho um status de idosa. Por um lado muita coisa mudou, muita mesmo, mas por outro lado, ainda tenho muito daquela garotinha de 7 anos, decorando o poema, e Glorinha me telefonou no dia do meu aniversário...
E ando devagar, pq não tenho pressa.


TOCANDO EM FRENTE

Almir Sater

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Se aprendi alguma coisa? Não sei. Só sei que nada sei, como dizem.  Entendo hoje que tudo passa, os grandes tombos e os melhores momentos, mas que coisas bem simples e pequenas podem ser as coisas mais importantes da nossa vida. 




sexta-feira, 19 de abril de 2013

Esse é Enzo, nosso mais novo troféu!


Hoje sei o que me importa.  Quero sempre apresentar meus filhos com muito orgulho, por sabê-los íntegros, éticos, com um lindo coração. Quero tê-los sempre como meus troféus.  E tenho, com a graça de Deus.







UM TROFÉU
Mulheres são seres complicados. Mulheres tem tantas nuances, tantos tons de rosas, verdes, amarelos e azuis... Mulheres às vezes são tão iguais...
Assim que parimos, passamos um tempo meio inebriados, meio fora do contexto.  Só falamos no nosso filho, nas fraldas e cremes anti assaduras. A Terra continua rodando, os pais recomeçam logo sua rotina e as mães ficam em casa, entre mamadas, choros e cocô mole. É um mundinho a parte, um namoro intenso, uma paixão desmedida. Uma troca de olhares que nos desmonta. Uma pequena alteração na temperatura do bebê pode nos levar ao desespero.  Nunca mais seremos tão bipolares, vamos do céu ao inferno em poucos segundos, várias vezes por dia.
Na primeira vez que levei minha filha mais velha, com um mês de idade, pra visitar meu trabalho, minha irmã, que me acompanhou, usou uma expressão que jamais me esqueci.  Disse ela, que eu apresentava minha filha como um troféu.  Que eu a mostrava pra todos com tal orgulho, como se fosse um prêmio arduamente conquistado.  Minha irmã ainda não tinha filhos, talvez não entendesse. 
Desde então, sempre que vejo uma mãe recente, com seu rebento, eu a vejo com um grande troféu, com um orgulho infinito.  Assim é.  Assim deverá ser sempre.
Os filhos crescem, nem sempre nos obedecem, nem sempre são tão bonitinhos como queríamos, nem sempre estudam tanto como pedimos, mas são os nossos filhos.  Um dia, olhamos pro lado e vemos um homem, uma mulher, tão independentes, com suas vidas encaminhadas, de um jeito ou de outro, como quiseram ou como conseguiram.  Assim como nós fizemos, aos trancos e barrancos...
Vejo agora minha filha re-vivendo todos esses momentos com seu lindo filho, vai pela rua portando seu orgulho, seu troféu.  Nada mais importa.




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Recomeços



O pai de família tem muitas vidas; goza e sofre em todas elas. 

[Marques de Maricá - 1237]

Vivemos várias vidas em uma, somos vários, metamorfoseados pelas circunstâncias e pelas descobertas. Em alguns momentos deliberamos mudanças de atitudes, em outros não temos alternativas, senão mudar. Fato é que o tempo passa, nós passamos pela vida, vamos mudando, às vezes lentamente, outras   repentinamente.
Um dia estava conversando com minha irmã sobre nossas várias vidas, sem sabermos que, naquele mesmo dia, a vida dela teria que mudar subitamente... O chão some, a casa roda, a cabeça explode, o coração dói – por um tempo, que cada um tem o seu – mas a vida muda. Nascemos e renascemos muitas vezes.
Na infância sonhamos com o dia em que vamos ser alguma coisa “quando crescermos”, quando fizermos dezoito anos, quando entrarmos na faculdade, quando nos casarmos, quando tivermos filhos...quando, quando, quando...quando será?
Um dia eu paro pra olhar aquela criaturinha de dez anos, que sonhava, que corria na rua, que queria uma boneca... quantas Reginas eu já conheci! Reginas que estudavam muito, que riam mais, que trabalhavam muito, que carregavam os filhos no colo... que amavam demais, todas muito sonhadoras, muitas Reginas, muitas vidas!  No fundo, no fundo, uma só!
Começaria tudo outra vez...(com algumas mudanças, não vou mentir)
Novamente recomeço. Em 2013 sou mais uma Regina, Regina que é avó.  Uma Regina que é avó de Enzo, quem é essa Regina? Essa é nova, ainda não a conheço, mas ainda tem em comum com todas as outras o desejo de ser útil, o desejo de ser melhor a cada dia. Sou ainda uma Regina que erra todos os dias, mas sempre tentando acertar. Uma Regina que crê em Deus, crê na força do amor, crê na família e tem sempre a esperança de um mundo melhor. 
Que 2013 nos renove a todos, Que venham novas Terezas, Normas, Marias e Rosanas...