Sou filha mais velha de seis. Cinco irmãs e um irmão, que ganhamos de presente quando já podíamos
ser mães. Nasci prematura, de parto
complicado. Sei, pelas histórias contadas, que meu pai, homem grande, me
sustentava em uma das mãos com meus dois quilos. Assim começa nossa família.
Dos meus avós paternos conhecemos uma foto e algumas
histórias. Imigrantes do princípio do
século passado, fugidos da Alemanha na primeira guerra mundial, chegaram a
Barbacena, Minas Gerais, onde meu pai nasceu (talvez fruto da longa viagem de
navio). Depois vieram para o Rio de
Janeiro e não sabemos da existência, no
Brasil, de qualquer outro parente. Meu
avô Peter era marcineiro e de minha avó conheço um pouco da personalidade
fascinante, pelos escritos que deixou.
Herdamos de Henriette
(Henny) um livro, um caderno e algumas cartas. Nada poderia ter tido maior encanto na nossa
vida.
O caderno é todo manuscrito, com bico de pena, caligrafia
perfeita, capricho, nobreza de caráter e dedicação. São quase cem páginas de pura contemplação. Alguns textos próprios, poemas e recortes de
jornais e revistas. Algum humor,
fino. Não consigo traduzir tudo, mas
sorvo as letrinhas, imaginando como isso acontecia. Vejo
aquela criatura sentada à mesa,
com tinta, pena, mata borrão, lápis, régua, cola, escrevendo o que lhe
passava. Fico admirada com a sua
cultura. Como terá sido sua vida antes do Brasil? Tudo é envolto em mistério e respeito.
Am Schalter
Postbeamter:
Dieser Brief ist zu schwer. Da mussen
Sie noch eine Marke aufkleben.
Frau: Aber
dann wird er ja noch schwerer.
( O funcionário do correio diz que a carta é muito pesada e precisa colocar mais um marco (selo). A senhora argumenta que então a carta vai ficar ainda mais pesada.)
Vivesse ela nos dias de hoje, seria blogueira, das boas. Minha homenagem de hoje é pra ela, a mulher mais velha da família.
É com esse retrato da vovó que a Jade lembrou ontem.
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