domingo, 7 de outubro de 2012

VOTO FEMININO




 O primeiro país a permitir o voto feminino foi a Nova Zelândia, em 1893. 
No Brasil, em 1929, foi eleita a primeira prefeita no estado do Rio Grande do Norte, que alistou sua primeira eleitora em 1929.  Somente em 1932, o Código Eleitoral Provisório finalmente definiu como eleitor todo cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo. 
A Constituição de 1934 confirmou o direito ao voto feminino, que só ficou definitivamente livre de qualquer restrição em 1965. Por fim, a Constituição de 1988 estendeu o direito e o dever de voto às mulheres, inclusive as analfabetas, para as quais o voto é facultativo.
Sempre me assusto quando reparo o quanto minha geração foi "vanguarda".Mulheres votando, dirigindo, divorciando, cursando universidade...
Nada disso veio de graça, muitas mulheres realmente à frente de seu tempo estiveram nas trincheiras da vida, seja na política ou nas artes, como na literatura ou teatro. Muitas deram a cara a tapa e os peitos também. 
Nossa responsabilidade é muito grande, cada voto é muito importante, vote consciente em pessoas limpas.  
Observem os sinais de desvio de caráter como se fosse o candidato a ser seu genro, sabe aquelas perguntinhas mágicas (secretas) que fazemos quando a filha chega com o namorado? Faça-as pra qualquer um que ameace entrar em sua casa. Faça essas mesmas e muitas outras pra alguém que vai governar sua cidade e defender seus direitos.  Bom voto!




quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Cosme e Damião



O dia de Cosme e Damião era muito aguardado na minha infância, chegávamos a pegar "senhas" antecipadas, pela ladeira, pra chegar nos lugares certos.  Lembro-me, também, que algumas casas preparavam grandes mesas com quitutes e abriam as portas. No Largo das Neves, a casa do Antonio Carlos, amigo da Maria Izabel e da Maria Regina,  era assim. Passávamos o dia recolhendo saquinhos, que nem sempre comíamos...
Meus filhos ainda puderam ver essa festa, morávamos num grande condomínio e nesse dia nenhuma criança ia à escola e o corre-corre ficava nos elevadores.  A campainha tocava o dia inteiro, com as crianças perguntando: - Vai dar doce?
Lembro-me especialmente de um dia, quando Leonardo ainda frequentava a Creche Tia Ney, no próprio condomínio. No dia de Cosme e Damião, quando cheguei do trabalho, Clarisse e Cláudia não estavam em casa, pois tinham ido recolher doces. De repente, ao atender a campainha, vejo o elevador cheio de crianças e meu filho, de um ano e meio, descalço, só de fraldas, com saquinhos na mão, muita baba de doce, muita sujeira nos pés e joelhos, mas um sorriso, uma alegria!  Elas tinham autorização pra pegá-lo na creche, quando eu já estava chegando, mas nesse dia, elas o haviam tirado da creche mais cedo e o levado pra participar da "coleta".  Eu já estava preparando a maior bronca do mundo, mas quando vi aqueles rostinhos todos, brilhando de tanta felicidade, tive que rir e permitir a continuidade dos trabalhos. Tudo o que eu queria era poder vê-los sempre tão eufóricos, para isso vivemos, fazer nossa prole feliz. Que S. Cosme e S. Damião protejam todos os filhos!

sábado, 8 de setembro de 2012

Cantares


Quem canta seus males espanta
ou
Um desafinado também tem um coração


Grandes cantores começaram sua carreira nos corais religiosos. Eu juro que tentei.  Tentei, quando já sabia ser impossível, sou muito desafinada. Desde bem pequena soube disso. Sofri bullying, devo ser um dos primeiros casos...  Nunca pude cantar um “parabéns a você”, todos olham pra trás, pra ver quem “entrou” (ou saiu do ritmo).   Já ouvi de tudo sobre isso.  Um músico, que namorava minha irmã, tentou me acompanhar ao violão, ninguém consegue mesmo, ele disse que não sabia como eu conseguia aprender idiomas...como eu conseguia falar português? Quando eu dava aulas de português para estrangeiros, numa turma de espanhóis, cantei um trechinho de uma música, desabou uma tempestade (juro que não tive culpa), mas durante anos isso era lembrado.  Escreviam cartas (não tinha internet) da Espanha, perguntando seu eu havia cantado, devido à quantidade de chuva... Estou acostumada, só canto baixinho, na minha casa.  Bom, no carro, sozinha, dá pra cantar mais alto um pouco, com janelas fechadas...
Sobre minha carreira, ou o que podia ter sido o início de uma carreira, me lembro bem como foi.  Lá pelos dez anos, na Igreja N. Sra de Fátima, o padre reuniu a criançada no auditório pra escolher alguns pro coral.  Todos cantando e ele passeando pra ouvir, parava diante da criança e avisava:  você vem depois... Claro que eu não ouvi esse convite.  Claro também, que ele não fez lista dos convidados.  Fui.  Vejam o quanto eu desejava  cantar! Pensei, na minha tenra idade, que o pior que podia acontecer era eu dizer que me enganei.  Participei do coral todo o tempo que ele existiu.  O padre nunca deve ter entendido como me chamou... Eu ainda me lembro de cada música que cantei na igreja.
Esse vídeo me lembra essa época, em que íamos cantando em procissão.


Apesar disso tudo, posso dizer que tenho uma vida musical, minha história é pontuada pelas músicas. Cada música é trilha sonora de um momento vivido. 

Talvez ninguém entenda com tanta perfeição a música do Tom Jobim, as pessoas não sabem que um desafinado também tem um coração.


Não posso cantar, sequer bater palmas ou caixinha de fósforos, já desisti.  Não consigo perceber que alguém desafinou cantando,  mas isso me faz muito feliz, sou muito menos exigente.  Gosto de todos os estilos musicais, na minha cabeça tenho até trechos de ópera, com todas as nuances harmônicas...
Segundo o Lair Ribeiro, quando alguém canta é porque está feliz e a recíproca popular também é verdadeira, quem canta seus males espanta.  Já tive momentos complicados em que tentava cantar e gaguejava, falhava e tentava de novo, até que realmente me sentia mais leve.  Momentos assim são cada vez mais raros, cada dia canto mais e sou mais feliz.  Como diz Martinho da Vila, a vida vai melhorar...


 Quando a saudade invade, sinto o beija flor trazendo o beijo tão desejado, conforme o Geraldo Azevedo canta.


Na minha vida, encontrei esses muitos parceiros, esses maravilhosos compositores e cantores, que sabem da minha emoção e me ajudam a externá-la,  música é um instrumento da minha felicidade, da minha catarse, quase em sempre é com música que extravaso em lágrimas pra seguir em frente, sempre mais feliz!  Imagina o que um desafinado sente ao assistir uma pérola como essa...


Assim é minha vida, mesmo desafinada, com emoção à flor da pele e sempre uma boa música na alma.

Hoje em dia, tudo ficou mais fácil com o Youtube, qualquer música a qualquer hora. Finalizo com essa música que marcou minha adolescência.









segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Cada dia melhor




Me esforço para ser melhor a cada dia.
Pois bondade também se aprende."

~ Cora Coralina ~

O País das Atrizes
Oswaldo Montenegro

"Cada personagem é o fascínio
E não há quem possa explicar
A mágica do mágico na minha alma de atriz
Há de transformar
A pérola dos olhos ilumina o que eu for
Onde quer que eu vá

E cada personagem é a menina que eu fui
E a que virá
E o rosto da pessoa que eu quero ser
Está em cada rosto que eu me pintar
E cada mil pessoas que eu for fingindo que serei
Eu serei quando alguém vir em mim o que ele será”



Me esforço pra ser melhor a cada dia, como Cora Coralina, não só bondade se aprende, tudo pode melhorar. Cada atitude, cada gesto, cada pensamento.
Sinto que estamos vivendo uma era epistolar. Mudança de tempos. Desenvolvimento, descobertas, tecnologia, comunicação instantânea com todas as partes do mundo (universo?!), mas falta tempo...
Além de todas as obrigações do dia, ainda temos que checar e responder aos inúmeros emails, seguir o Twitter e Facebook. Não há tempo para bate-papo. As operadoras de telefonia móvel já oferecem pacotes interessantes de torpedos, pois muitos dos usuários já abdicam da conversa em troca das mensagens escritas, muito notadamente entre os jovens e  enamorados em geral. A oralidade vai perdendo um pouco da magia.  Quem escreve pode completar um pensamento, sem ser interrompido, quem lê, pode reler depois com mais calma. Fica o registro, exigindo mais cuidado.
As redes sociais recuperaram os conhecidos de toda a vida, desde as primeiras classes escolares, o condomínio onde se morou com três anos, os parentes mais longínquos e aquele amigo que mora no Japão. Hoje todos se falam o tempo todo, sem o custo de uma ligação internacional.  E a conversa pode se estender, pode-se discutir desde uma teoria freudiana ao Código de Defesa do Consumidor.  Pode-se mandar um poema, uma música, uma oração ou aquela foto do seu tombo.  Compramos, vendemos, rimos e choramos online. As angústias e as alegrias podem ser compartilhadas o tempo todo, em cada pequeno espaço de tempo, bastando a posse de seu celular.
Vejo com muito carinho a volta do texto, mesmo com a grafia adaptada,  acho que mais importante é a colocação do pensamento, a organização do seu próprio ser.
Agora que temos de volta tantos amigos, que nem temos tempo de vê-los, que simplesmente “postamos”  frases em seu mural, temos o compromisso mostrar o nosso melhor.  Um nosso melhor que está sendo produzido a cada minuto, todos são “melhores”,  todos “postam” gentilezas, que geram outras gentilezas.  Se estamos tristes, desanimados, tem sempre um amigo pra fazer um cafuné no ego. Como faz bem e cuidamos de retribuir, de compartilhar. Qualquer frase politicamente incorreta é criticada e corremos a nos corrigir, corrigir mesmo, pois, paramos pra pensar a respeito. Acredito que seja assim com a maioria das pessoas.  Pessoas que já eram de bem, mas agora estão ainda melhores. Tenho percebido claramente isso entre meus amigos.
“E cada mil pessoas que eu for fingindo que serei
Eu serei quando alguém vir em mim o que ele será”

Acredito num mundo melhor, acredito num homem melhor e estou apostando nessa fase de relacionamentos virtuais, nessa fase escrita, como instrumento de lapidação pessoal. 

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sonetos




E o pai que declamava tinha um livrinho de SONETOS BRASILEIROS, organizados por Laudelino Freire, cujo prefácio é de 1914, em Paris. São 105 sonetos e 105 retratos, incluindo Gonçalves Dias, José Bonifácio e  Fagundes Varela, com seus sonetos, expressão de uma época, de um modo de ser e pensar.  E meu pai declamava, nós amávamos cada poema, cada foto. E declamava um deles, em especial, para minha mãe, talvez profetizando a vida deles...

" Os Cisnes "
Júlio Salusse (1872/1948)


A vida, manso lago azul, algumas
vezes, algumas vezes mar fremente,
tem sido para nós, constantemente,
um lago azul, sem ondas, sem espumas.

E nele, quando, desfazendo brumas
matinais, rompe um sol vermelho e quente,
nós dois vogamos indolentemente
como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia, um cisne morrerá por certo.
Quando chegar esse momento incerto
no lago, onde talvez a água se tisne,

- que o cisne vivo, cheio de saudade,
nunca mais cante, nem sozinho nade,
nem nade nunca ao lado de outro cisne.





































segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Um Pierrot apaixonado...

(pequenos trechos que marcaram a minha vida, vale a pena a leitura completa - http://www.jornaldepoesia.jor.br/mpicchia04p.html)



MÁSCARAS –Menotti Del Picchia (1892-1961)

PERSONAGENS
Arlequim : Um desejo
Pierrot : Um Sonho
Colombina: A Mulher

Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.
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ARLEQUIM
Como as espigas...
Como os raios de sol e as moedas antigas...Notei-lhe, sob o luar, a cabeleira crespa, anca em forma de lira e a cintura de vespa, um cravo no listão que o seio lhe bifurca, pezinhos de mousmé, olhos grandes, de turca... A boca, onde o sorriso era como uma abelha, recendia tal qual uma rosa vermelha.
ARLEQUIM - O beijo da mulher! Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar, como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver um corpo fremir tal qual uma bandurra...Desfalecer ouvindo a música que canta no gemido de amor que morre na garganta...Colar o lábio ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo...ir aos poucos subindo...até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar na síncope de um beijo!
A mulher? É verdade...
Levou naquele beijo a minha mocidade

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PIERROT   -   É tão doce sonhar!... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim , misticismo tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....
ARLEQUIM - Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um Pierrot muito branco...”
A história de um Pierrot sempre nisso consiste... Começa.
PIERROT narrando: “Era uma vez... um Pierrot... muito triste... “
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ARLEQUIM - E beijaste-lhe a boca.
PIERROT, cismarento: Não...Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios, esse beijo que morre assim como um gemido, sem ter a sensação brutal de ser colhido...
ARLEQUIM, tristonho: Essa história, Pierrot, é um pouco merencória...
PIERROT -  A história desse olhar é toda a minha história.
ARLEQUIM - E não a viste mais?
PIERROT - Nem sei mesmo se existe...

ARLEQUIM, contendo o riso: É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!
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COLOMBINA, hesitante:
A Pierrot: Eu amo-te , Pierrot...
A Arlequim: ... Desejo-te, Arlequim...
ARLEQUIM, soturnamente: A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois... e dois amam só uma!..
COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão: Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:
A Arlequim: O teu beijo é tão quente...
A Pierrot: O teu sonho é tão manso...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,
porque a história do amor pode escrever-se assim:
PIERROT
Um sonho de Pierrot...
ARLEQUIM
E um beijo de Arlequim!
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Acho que meu pai era parcial na sua leitura, tendendo a defender Pierrot, também eu sempre 
torci por ele.

A saber: Esse poema foi escrito em 1920, transcrevo notícia de um jornal em 1917



"Itapira, interior paulista, 1917. Jovem de 25 anos publica livro que já reúne traços do nacionalismo que o Movimento Modernista consagraria anos mais tarde.
Autor: o paulistano Menotti del Picchia, nascido em 20 de março de 1892. Obra:Juca Mulato. Poema regionalista, conta a história de um caboclo que se apaixona pela filha do fazendeiro.
São Paulo, capital do Estado, 1922. Menotti é um dos articuladores da Semana de Arte Moderna. Militante da estética modernista, ao lado de Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, cria o grupo Verde-Amarelo. Vertente conservadora do Movimento Modernista, criticava o “nacionalismo afrancesado” de Oswald de Andrade. Propunha a recusa às influências estrangeiras e a busca de uma literatura que expressasse a realidade e a essência brasileiras: um nacionalismo primitivista, ufanista, mítico, cheio de apelos e exaltações à natureza e à “raça” brasileira.
Poeta de prestígio, escreveu também romances, literatura infanto-juvenil, contos, crônicas, novelas, ensaios, peças, estudos políticos. Mas, escreveu Manuel Bandeira: nenhum dos seus livros modernistas superou o êxito de Juca Mulato, onde o poeta se apresenta em sua feição mais genuína. A obra vendeu mais de 40 milhões de exemplares no Brasil, Alemanha, Itália, Espanha, França e Polônia.
Em 96 anos de vida, Menotti del Picchia recebeu inúmeras homenagens, prêmios e foi proclamado Príncipe dos Poetas Brasileiros". (http://mnegocio.blog.uol.com.br/arch2010-03-14_2010-03-20.html)




domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos pais


Pai é pai!

      Meu pai era um homem que declamava. Em vários idiomas.  Assim era meu pai.  Lia Shakespeare, cantava ópera em alemão e declamava.   Algumas coisas,  ainda posso ouvir com todos os detalhes, como algum sibilo nos “s”.   Quando ouço Vinícius de Moraes declamando algum dos seus lindos poemas, chego a fechar os olhos para ouvir,  me lembra muito a voz e o jeito de meu pai. Afinal, são contemporâneos.  Tantas  vezes ouvi o poema “Máscaras”  de Menotti Del  Picchia, inteiramente interpretado, que ainda sei de cor alguns trechos.    Eu sofri tanto  com a dor de Pierrô...

      E meu pai contava os “causos”  da infância, do seu cachorrinho e dizia que manteiga só era passada no pão como prêmio ao bom comportamento. 
Reza a lenda também, que minha mãe marcou a vida de meu pai desde o dia em que nasceu.  Contava ele, que na data do nascimento de minha mãe, aos 26 de fevereiro de 1927, houve uma explosão em uma das casas da vila onde ele morava, atingindo também a sua casa, tendo eles perdido tudo, recomeçando, mais uma vez.  No dia 22 de fevereiro meu pai havia completado 13 anos e no dia 26 alguns amigos teriam ido cumprimentá-lo,  minha avó saiu de casa com eles para mostrar algo do lado de fora e assim, por sorte, não morreram todos na explosão.

      Não sei o que tem de verdade nas  suas histórias. O que importa?  Muitas delas,  que considerei fantasiosas, foram comprovadas por amigos depois que ele partiu.   Sobre o seu cãozinho Tigre e sobre a explosão eu consegui registros no livro de minha avó. Consta a data de 23 de fevereiro,  afinal,  pequeno engano ou licença poética de meu pai são totalmente perdoáveis.






1 - Dia 24 de junho, aniversário de Tigre, cãozinho de Fritz
2 - Dia 23 de fevereiro, às seis e meia da tarde, explosão em casa, rua Barão de Petrópolis, 69 -  no ano de 1927


      














A alegria com a quinta filha...




Ele ficou pouco tempo conosco, muita ausência física, mas a importância desse homem em nossas vidas  é incontestável.  Certa vez, uma amiga que eu levei a casa de minha mãe se surpreendeu ao nos ver falando de dele com tanta naturalidade.  Ela disse que parecia falarmos de alguém que tinha ido à padaria e já voltava.  Ele não volta, mas foi ali e logo nos reencontraremos todos.  



  
Pai, assim nos vemos, sempre juntos, de mãos dadas, galgando, aos poucos, nossos degraus, sempre sentindo sua proteção, nos acompanhando, estimulando a cada "fera" que encontramos nos caminhos.






quinta-feira, 26 de julho de 2012

Meia Idade

                   Realmente não sei por que chamar de meia-idade, se não devo chegar aos 120 anos.  Sou dos anos 50, mais precisamente, nasci em 1953 e tenho a impressão de que tudo aconteceu nessa época. A televisão, a informática e a chegada do homem na Lua são pequ enos detalhes de uma imensa gama de descobertas científicas, mas a vida em si, os costumes e tradições, estes sim, viraram 180 graus. 


Sendo mais precisa e honesta, tudo começou no pós guerra, com o rock, com o maravilhoso Elvis Presley.  A minha geração já pegou o barco virando.  Quando eu tinha 16 anos os Beatles se dissolveram.   Esse grupo de jovens rebeldes, que usavam terno e gravata...  
              Na geração da minha mãe os conceitos eram claros.  As mulheres e os jovens em geral, sabiam o que podiam e o que deviam fazer,  onde ir, o que vestir e principalmente sobre o comportamento sexual. 
De repente, tudo muda. Na minha adolescência, fiz 15 anos 1968  “o ano que não terminou”,  nós tínhamos, ao mesmo tempo, os apelos Paz & Amor, o Sexo, Drogas e Rock”n”roll, Woodstock, Hair, Easy Rider e, em contra partida, os conselhos dos nossos pais, a repressão sexual, a igreja e o pecado. 
              Aos 13 anos não poderia sair de casa sem “anágua”. Jamais poderia ir a uma festa sem meias de nylon.  Entrar no carro de um rapaz, sozinha, nem pensar.  Isso pode, aquilo não, hora de sair, hora de chegar...e o Festival de Woodstock rolando!  Sem internet, as fotos demoravam a chegar, mas chegavam.  Os jovens do mundo inteiro contestando.  Os hippies andando pelas ruas seus artesanatos.  Os festivais de música, os shows repletos de maconha.  A vida fora de casa é muito interessante.  Os jovens que vemos nas TVs e revistas são muito livres e felizes.   Entre os Hare Krishnas os filhos de todos são criados pela comunidade. Em casa ainda não se fala palavrão.

Difícil escolha entre um leque tão grande de opções, difícil abrir mão de tanta liberdade. Difícil encontrar um meio termo, mais fácil a esquizofrenia.
         Entre trancos e barrancos, algumas escapadinhas, algumas broncas, sobrevivemos.  Tentamos encontrar o nosso caminho,  derrubando obstáculos, os domésticos também. 

Levamos uma vida tentando mostrar aos mais velhos, que somos jovens e livres. Agora, tentamos desesperadamente mostrar aos nossos filhos o caminho da responsabilidade, livres eles já são, mas conhecedores que somos (em maior ou menor grau) de “Sexo, Drogas e Rock’n’roll”.  Paira, por vezes, um certo cinismo. Não é possível repetir o que nos diziam, o discurso tem que ser mais franco, quase confessional, o que nos torna humanos, iguais.  Ainda procuramos a felicidade, ainda curtimos baladas e podemos tomar um porre.
 Eu me lembro de minha mãe e suas amigas, que   aos trinta anos já eram mulheres maduras e respeitáveis.  Vou fazer sessenta anos. Chego à velhice sem passar pela idade madura, apesar da meia-idade.  Não tenho a disposição necessária para acompanhar a toda juventude que ainda pulsa em minhas veias, mas ainda não vou passar o dia de pijama.  A impressão que fica é a de que deitei adolescente e acordei já idosa, com tanta coisa a realizar...


Alguns brindes:
FESTIVAL DE WOODSTOCK - 1969
               



Filme HAIR - 1979























BORN TO BE WILD no filme 
EASY RIDER (SEM DESTINO)
1969


sábado, 7 de julho de 2012

Os heróis de cada dia




UM HERÓI DE BRINQUEDO


mais um pedacinho...


Eu poderia entrar de sola, discorrendo sobre a diferença entre homem e mulher, pai e mãe, falando sobre o personagem do Schwarzenegger, do quanto foi difícil pra ele entrar no clima de Natal e querer satisfazer seu filho.  Poderia falar também, que assim que a disputa se acirra, ferindo seu orgulho de macho, a guerra passa a ser pessoal e tudo é feito para recuperar seu status de superior, curando seu ego ferido. 

Eu não vou falar nada disso. 

Além da diversão, pois é um filme bem gostosinho, senti que reproduziram muito bem o que ocorreu comigo muitas vezes.

Vamos vivendo, sempre acumulando, sempre na correria, trabalho, mercado, pediatra, mertiolate, zíper emperrado, pneu furado, arroz queimado... ufa!!!   O que se passa com as crianças enquanto isso?  Já tem seus amiguinhos da creche e do play, seus próprios assuntos e seus próprios heróis. 

Lembro-me de me sentar pra assistir desenho animado pra poder entender do que falavam.  O meu caçula tentou (quase conseguiu) me enlouquecer explicando as várias “evoluções” do Pokémon – os do fogo, da água... fingi que entendi, decorei um nome e ele ficava todo feliz quando achava a figurinha ou o brinquedinho: - Mãe, aqui o que você mais gosta!  Na verdade, era o único que eu reconhecia. Não sei se já contei isso a ele. 

As músicas do pré-escolar, as coreografias do balezinho, os exercícios da natação, tudo era repetido exaustivamente nos fins de semana.  As viagens de carro eram animadíssimas. 

É pouco. Tem sempre uma novidade, a vida deles é plena e dinâmica. As meninas ainda tem a moda pra acompanhar, a botinha, a pochetezinha, o biquíni novo.  E os eletrônicos, quem dá conta desse upgrade interminável? Ainda temos que provê-los de games, do Atari aos Wii ou sei lá o que mais. 

Temos?  Sempre tive dúvida.  Optei por um meio termo.  Um dia, descobri que minha filha não sabia a música da Xuxa que cantavam numa festinha. Eu não ligava a TV no programa.  Entendi que ela não deveria se sentir “diferente”.  Dá trabalho pensar e repensar cada atitude, cada programa da TV, cada chocolate que se compra pra um filho.  E fazer isso tudo, mas querer que ele seja a criança mais feliz, mais saudável, mais inteligente, mais educada e a mais perfeita do mundo. Ainda assim não ser “diferente”.

Voltando ao filme, várias vezes me senti como aquele pai, que descobre um “sonho de consumo”, mas não consegue entender sua importância. Meio obrigado pela situação, vai à procura do brinquedo, descobrindo o quanto aquilo está na moda e o quanto seu filho deve estar tão envolvido naquele clima. E ele não conhecia o brinquedo.  Vale a pena, naquele momento, tentar explicar que o espírito do Natal nada tem a ver com o consumo desenfreado e tudo o mais que realmente pensamos desse dia?  Vale a pena, a tristeza do seu filho naquela hora?  Melhor tentar comprar o tal boneco e explicar depois.

Nesse momento, é você que está totalmente enfeitiçado e procurando desesperadamente por algo que há cinco minutos você nem sabia que existia. Assim é a vida, inusitada. Assim são os pais e as mães, sempre tentando acertar, cada um do seu jeito. No fundo nós somos os seus heróis.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

A vida é bela!


    Será?  Que garantias temos do que há por vir? 

   Quando engravidamos e parimos, o que mais nos preocupa é saber em que mundo estamos colocando aquele pequenino ser, aquela preciosidade que gestamos.  Alimentamos esse bebê,  contamos cada grama de leite mamado, tentamos evitar o vento,  o frio, o calor e os mosquitos.  Ficamos parados observando seu soninho,  chegando mesmo a verificar se respira.   

    O primeiro dia em que o deixamos com alguém, pra trabalhar, o primeiro dia de creche,  são inesquecíveis sentimentos de remorso, de ciúme e de perda. 
 
    Ao primeiro esfolado do joelho,  choramos ao dar aquele beijinho que cura.
 
   Quem dera curasse!  Tudo o que queríamos era podermos curar todas as mágoas,  todas as dores,  todos os amores não correspondidos.
 
   Olhos nos olhos, procuramos saber o que pensa, de que gosta e pelo que sofre.  Nada é mais importante do que o sorriso dos nossos filhos.  E tentamos a todo o custo, mostrar uma vida bela,  mesmo que não seja, ainda assim, tentamos pintar uma paisagem melhor para esse mundo.  

   Este filme “La vita é bella”,  classificado como comédia dramática, mostra, acima de tudo,  o comprometimento de um pai com a felicidade do filho.  Nada importava mais que mostrar ao filho um mundo belo.  Bela é a vida onde as pessoas se comprometem com a felicidade de alguém.  Bela é a vida onde existe um pai dedicado.  A vida é bela quando existe o amor, quando existe a família!

Trailer legendado:

Película completa: lamentavelmente em espanhol e não em italiano (original).