quarta-feira, 27 de junho de 2012

Das origens, Parte 4









Voltando aos registros de minha avó Henny,  as anotações dos nomes dos pais dos pais e dos pais da mãe, com local, data de nascimento e morte, profissão dos homens e ainda os nomes de solteiras das esposas.  Exemplo de carinho.   

















Dessa maneira carinhosa foi registrado o nascimento de meu pai:


“Em 22 de fevereiro, às 8h15 da manhã, nasceu nosso menino Fritz Rohsner (1914)”

















Em homenagem a ela, a cantata 147 - Jesus Bleibet Meine Freude
 Johann Sebastian Bach                                             


Jesus bleibet meine Freude,

Meines Herzens Trost und Saft,
Jesus wehret allem Leide,
Er ist meines Lebens Kraft,
Meiner Augen Lust und Sonne,
Meiner Seele Schatz und Wonne;
Darum lass ich Jesum nicht
Aus dem Herzen und Gesicht.








quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio das Flores





Em tempos de Rio +20

Assisti esse curta em 1995 e nunca me esqueci.  Difícil não se sentir culpado, difícil não chorar.  É pra ser assistido várias vezes,  até sangrar a alma.  Eu considero que o lixo é o maior problema do planeta.   Aí entra o consumismo e a falta de bom senso.  Quantas vezes tentei consertar algum aparelho elétrico, como um ferro de passar roupa e descobri que custaria o dobro do preço de um novo?  Solução?  Jogar fora e comprar um novíssimo, com mil recursos,  baratíssimo, em dez vezes no cartão de crédito.   Assim acontece com a TV,  o relógio, o fogão, a cama.  E os computadores, máquinas fotográficas e celulares?  É alucinante a velocidade do descarte.  Eu, particularmente, que sou do tempo em que a gente trocava a resistência (uma placa de malacacheta) do ferro elétrico em casa,  resisto demais em descartar um aparelho que está novo, só quebrou um pedacinho...

E os alimentos?  Morei numa rua com Feira Livre, que horror!  A quantidade de folhas, frutas e legumes que é deixada no chão é indecente.  Aí, chega o segundo momento, os catadores que pegam o que querem,   até que chega o lixeiro pra levar o resto para o lixão, onde mais uma leva vai buscar alguma coisa. 

A fome e a miséria não são sintomas de superpopulação, são resultado do total descaso das classes mais favorecidas.

Falta tudo, falta orientação, falta controle, falta carinho com tudo.  O carinho ao se manipular uma fruta vai conservá-la intacta por muito mais tempo,  bom, mas então não sobraria pro catador...tem gente que pensa assim, pasmem!

O filme ILHA DAS FLORES,  do diretor Jorge Furtado, de 1989, discute a pobreza, a fome e principalmente a exclusão social. Passados 23 anos, podemos verificar que nada mudou...Será que em 2022, durante a Rio +30 vamos poder constatar coisa diferente?



Citado no filme:
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda".  (Cecília Meirelles)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Marias


MARIAS, REGINAS E  OUTRAS MULHERES

Existem os estatutos, as leis e as punições.  Sempre que vejo “reserva de vaga” e outros  regulamentos onde pretensamente protejam os direitos das “minorias”, me pergunto se eles não são a prova mais viva das discriminações. 
Dia Internacional da Mulher, seriam os outros 364 dos homens?  
Não sou feminista, nunca reneguei meus seios, nem queimaria meus suteans.    Sou um ser humano,  do sexo feminino.
Acho que pelo fato de ter  uma família  tão cheia de mulheres (e que mulheres!),  não fomos criadas sob o jugo masculino.  Somos mulheres, somos gente, que não fica questionando sobre os direitos femininos, mas os sente, os vive e os exige.   Assim sou, como minhas irmãs e minha mãe.  
Usamos batom e salto alto, parimos e amamentamos.  Namoramos homens.  Amamos os homens que nos tratem bem, que abram portas para passarmos, que nos tragam flores, claro.  Homens que não pensem que nascemos para  lhes trazer os chinelos quando chegam do trabalho.  Nós também chegamos do trabalho, por vezes mais duro que o deles.  Nós também precisamos de massagens nos pés.  Afinal, andamos de salto alto...
Uma amiga só entendeu “o casamento” quando após uma semana de uma linda lua de mel, praia, passeios e muito amor, o “marido”  avisou que naquele dia eles não poderiam passear, pois “ela”  teria que lavar as roupas dele...  Como assim? Aos poucos ela vinha cuidando da própria mala e lavando uma coisinha ou outra... mas cabia a ela fazer o mesmo com a mala dele.  Não porque queria, não porque combinaram, simplesmente era a sua obrigação de esposa.  Tem muitos itens estranhos nesse contrato de união (seria de amor?). Por menos formal que seja esse casamento, já vem no pacote, não se discute. 
O que eu penso disso tudo é tão diferente,  que já reclamo se o marido se oferece para ajudar a esposa, lavando uma louça, por exemplo.  Ajudar?  De quem é a louça?  De quem é a tarefa?  De quem é a casa? Ou o casamento  é  uma parceria ou não sei de mais nada...   
Não estamos pedindo liberdade, somos livres, leves e soltas!   E temos muito amor no coração...


Olha Maria     Tom Jobim

Olha Maria 
Eu bem te queria 
Fazer uma presa 
Da minha poesia 
Mas hoje, Maria 
Pra minha surpresa 
Pra minha tristeza 
Precisas partir 

Parte Maria 
Que estás tão bonita 
Que estás tão aflita 
Pra me abandonar 
Sinto Maria 
Que estás de visita 
Teu corpo se agita 
Querendo dançar 

Parte Maria 
Que estás toda nua 
Que a lua te chama 
Que estás tão mulher 
Arde Maria 
Na chama da lua 
Maria cigana 
Maria maré 

Parte cantando 
Maria fugindo 
Contra a ventania 
Brincando, dormindo
Num colo de serra 
Num campo vazio 
Num leito de rio 
Nos braços do mar 

Vai alegria 
Que a vida, Maria 
Não passa de um dia 
Não vou te prender 
Corre Maria 
Que a vida não espera 
É uma primavera 
Não podes perder 
Anda, Maria 
Pois eu só teria 
A minha agonia 
Pra te oferecer



domingo, 17 de junho de 2012

Morrer de amar


A Valsa, Camille

Camille Claudel



Grande escultora francesa.  Foi modelo, aprendiz e amante de Auguste Rodin. Por vezes, a obra de um e de outro são tão próximas que não se sabe qual obra de seu professor ou da aluna. Não consegue superar  a dor  do  fim do romance, nutrindo pelo escultor um misto de amor e ódio,  o que a leva à loucura e à morte... 

                                                            Camille e Rodin






No período em que estiveram juntos,  tanto as obras de Rodin, como as de Camille, foram marcadas pelo forte apelo sensual.











Sakountala, de Camille




                         

                                               O beijo, de Rodin
                                                                                                                                                                                                   




  
Morrer de amor.  Viver à sombra de alguém, dependente  de um amor e por ele enlouquecer até a morte!  

O que é o amor?  Como pode um amor ser tão forte que supere o instinto da vida? Será isso já prova de sua insanidade mental? Não duvido do sofrimento por amor, também já sofri.  Sei como dói...  Mas a vida tem que ser mais, como diria Mário Quintana: “Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...”


Vale a pena ver o filme, conhecer a fúria da criação desses dois gênios Auguste Rodin e Camille Claudel.























quinta-feira, 14 de junho de 2012

A gente se acostuma

Marina Colasanti
nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália
 e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos,
 crônicas, poemas e histórias infantis.É casada com o
escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.
Eu sei, mas não devia
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Dia dos namorados

Que apesar das dificuldades da vida moderna, sempre possamos acreditar no amor.Esse filme nos leva ao comecinho de namoro, ainda nos faz chorar de emoção. Chorar de emoção é sempre muito bom! Emoção compartilhada, sabendo que o outro está ali, dentro do seu coração, no mesmo compasso, é o que nos faz ainda hoje acreditar no amor eterno!
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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Start Again

Realizando Sonhos

Desde o dia em que assumimos o controle de nossas vidas, entendemos que viver não é fácil. 

Realizar um sonho custa muita garra.  Aquela casa que queremos, aquele concurso que vai nos dar estabilidade financeira, aquele amor...

Realizar um sonho, sempre, significa abrir mão de outras coisas muito importantes.  É preciso focar, dizem os especialistas.  É trabalho duro, dedicação integral e muita paciência.  Pois demora. Às vezes demora tanto, que mudamos o foco e recomeçamos do zero. Não importa. O mais importante é estar sempre buscando, sempre procurando a excelência.

Já realizei sonhos muitas vezes. Outras vezes, falhei, transformei o sonho, reciclei minhas forças e recomecei.   

Realizar um sonho é algo que não se pode descrever.  É aquele momento em que todos os sentidos convergem, o coração palpita, as lágrimas descem pelo rosto e nos sentimos abençoados por Deus.  Valeu a pena! 

O filme FLASH DANCE, pra mim, traduz essa emoção de maneira ímpar.  Ele me incentiva em continuar na luta, porque vencer é muito bom! 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Das origens, parte 3

Jesus bate à nossa porta, que possamos recebê-Lo e ouvi-Lo!

Alguns dias,  papai abria essa Bíblia e lia pra nós, traduzindo do alemão antigo e interpretando a seu modo.  Algumas histórias,  pedíamos pra ele repetir sempre e ainda tenho vivo na memória, as palavras usadas, seu entusiasmo e suas explicações.  Noutro dia abri minha Bíblia à procura de uma passagem.  Achei duas linhas, de uma história que meu pai passava o dia todo contando. 

Contava ele que Jesus chegava à casa de Maria e Marta, irmãs de Lázaro,  entrava, sentava e Maria acomodava-se no chão,  a seu lado e ficava  ouvindo suas histórias.  Enquanto isso, Marta ocupada com os afazeres da casa,  preparava um cafezinho, trazia uns bolinhos, correndo de um canto pro outro para melhor servi-Lo... 

Meu pai interpretava: Jesus, o Senhor quer mais um cafezinho? (eu ficava imaginando as cenas)...  

Quando, enfim, Ele  anunciava que partiria, Marta chegava, afoita, reclamando que não tinha tido tempo de ouvi-Lo.    Jesus, então,  explicava que cada uma tinha uma função e que Maria havia escolhido a melhor parte. 

Nunca aceitei essa explicação.  E eu me via na situação de Maria, ouvindo meu pai, enquanto minha mãe estava ocupada nas lidas diárias.  Além disso, eu também tinha uma irmã chamada Marta e tudo isso se misturava. Era injusto. 

Custei muito a entender a verdadeira mensagem do Senhor.  Tenho certeza de que a família toda tem na mente essa imagem de Jesus batendo à porta...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Mães desnecessárias...

MARCIA NEDER, Psicanalista, Pós-doutora e doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, professora adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Educação da USP (NUPPE), professora convidada da PUC-RJ e da Casa do Saber - RJ, psicanalista supervisora da Escola Favinho e Mel (Rio de Janeiro). É autora dos livros Psicanálise e Educação. Laços Refeitos; A Arte de Formar: o feminino, o infantil e o epistemológico e Édipo Tirano: o feminino e o poder nas novas famílias.


"A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo..."
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e ela sempre me soou estranha... até agora. Agora que minha filha adolescente, aos quase 18 anos, começa a dar vôos-solo.
Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria debaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.
Uma batalha interna hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta pra controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa isso. Ser "desnecessária" é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical... A cada nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeça o ciclo.
O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser "desnecessários", nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Tipo assim...

Tipo assim                           
                                                    Kledir Ramil (Lembram se Kleiton&Kledir?)   
                                                       (Esta crônica tem sido atribuida a Veríssimo, mas não é)
Tô ficando velho! Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente na saída do show do Charlie Brown Jr. Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa.
E aí, o show foi legal?
A resposta veio de uma mais exaltada do banco de trás.
Cara! Tipo assim, foda!
E outra emendou.
Tipo foda mesmo!
Fiquei tipo assim calado o resto do percurso, cumprindo minha função de motorista. Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão daqui a pouco vamos precisar de tradução simultânea.
Para piorar ainda mais, inventaram o MSN, essa praga da internet onde elas ficam horas e horas escrevendo bobagens umas pras outras, em código secreto. Tipo assim "kct! vc tmb nunk tah trank, kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks. Jubys". Em português: "Cacete! Você também nunca está tranqüila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas. Jubys".
Jubys, que deve ser pronunciado "diúbis", é isso mesmo que você está imaginando, a assinatura. Só que o nome de batismo é Júlia, um nome bonito, cujo significado é "cheia de juventude", que minha mulher e eu escolhemos, sentados na varanda, olhando a lua... Pois Jubys é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos nas orelhas, que quer encher o corpo de piercings e tatuagens. Tô ficando velho!
Outro dia tentei explicar pro mesmo bando de adolescentes o que era uma máquina de escrever. Nunca viram uma. A melhor definição que consegui foi "é tipo assim um computador que vai imprimindo enquanto você digita". Acho que não entenderam nada.
Eu sou do tempo do mimeógrafo. Para quem não sabe, é uma máquina que você coloca álcool e dá manivela para imprimir o que está na folha matriz. Por sua vez, essa matriz precisa ser datilografada (ver "datilografia" no dicionário) na tal máquina de escrever, sem a fita (o que faz com que você só descubra os erros depois do trabalho feito), com o papel carbono invertido... Enfim, procure na internet que deve haver algum site de antiguidades que fale sobre mimeógrafo, papel carbono, essas coisas. Se eu ficar explicando cada vocábulo descontinuado, não vou conseguir acompanhar meu próprio raciocínio.
Voltando às garotas, a cultura cinematográfica delas varia entre a "obra" de Brad Pitt e a de Leonardo de Caprio. Há anos tento convencê-las a ver "Cantando na Chuva", mas sempre fica para depois. Um dia, cheguei entusiasmado em casa com um filme francês que marcou minha infância: "A guerra dos botões". Juntei toda a família para a exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos. O guri foi jogar bola, Jubys inventou "um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem que entregar tipo assim até amanhã senão perde ponto" e até minha mulher, de quem eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que tinha um compromisso com hora marcada e se mandou. Fiquei ali, assistindo sozinho e lembrando da época em que eu trocava gibi na porta do Capitólio.
Eu sou do tempo em que vidro de carro fechava com maçaneta. E o Fusca tinha estribo, calha e quebra vento. Não espalha, mas eu andei de Simca Chambord, de DKW, Gordini, Aero Willys e até de Romiseta. Não dá pra explicar aqui o que era uma Romiseta, só vou dizer que era tipo assim um veículo automotivo, com 3 rodas, que a gente entrava pela parte da frente (onde hoje fica o motor) e a direção era grudada na porta. Procure na internet, deve haver um site.
Tá bom, tá bom, confesso mais. Usei camisa Volta ao Mundo, casaquinho de Banlon, assisti à Jovem Guarda, O Direito de Nascer, mas é mentira essa história de que meu primeiro disco gravado foi em 78 rotações.
Há pouco tempo, João, meu filho de 8 anos, pegou um LP e ficou fascinado. Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando dentro do sulco do vinil. Expliquei que aquele atrito era transformado em pulsos elétricos e transmitido através do toca-discos, dos fios, até chegar ao alto falante onde era gerado o som que estávamos escutando... mas aí ele já estava jogando sei lá o que no videogame. Não é que ele seja desinteressado, eu é que fiquei patinando nos detalhes. Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as "histórias do tempo em que eu era criança". Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco ele "viajou" na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns tempos para cá é que as coisas começaram a ganhar cores.
Acho que de certa forma ele tem razão.
Tipo assim...

Antes que elas cresçam...

Antes que elas cresçam
Affonso Romano de Sant'Anna

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

domingo, 3 de junho de 2012

Deus proteja as nossas meninas...

As Minhas Meninas 

Chico Buarque
Olha as minhas meninas
As minhas meninas
Pra onde é que elas vão
Se já saem sozinhas
As notas da minha canção
Vão as minhas meninas
Levando destinos
Tão iluminados de sim
Passam por mim
E embaraçam as linhas
Da minha mão

As meninas são minhas
Só minhas na minha ilusão
Na canção cristalina
Da mina da imaginação
Pode o tempo
Marcar seus caminhos
Nas faces
Com as linhas
Das noites de não
E a solidão
Maltratar as meninas
As minhas não

As meninas são minhas
Só minhas
As minhas meninas
Do meu coração


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Elas não são humanas...

Luiz Fernando Veríssimo


Mulheres
"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?

E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido.
Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...

O sexto-sentido não faz sentido!

É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!

E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?

E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...

Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?

Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...

É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos?

Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?

Elas conhecem todos...

Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.

EN-FEI-TI-ÇAM !

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.

O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento
que os faz dormir nessa hora."