terça-feira, 5 de junho de 2012

Mães desnecessárias...

MARCIA NEDER, Psicanalista, Pós-doutora e doutora em Psicologia Clínica pela PUC-SP, professora adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Educação da USP (NUPPE), professora convidada da PUC-RJ e da Casa do Saber - RJ, psicanalista supervisora da Escola Favinho e Mel (Rio de Janeiro). É autora dos livros Psicanálise e Educação. Laços Refeitos; A Arte de Formar: o feminino, o infantil e o epistemológico e Édipo Tirano: o feminino e o poder nas novas famílias.


"A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo..."
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e ela sempre me soou estranha... até agora. Agora que minha filha adolescente, aos quase 18 anos, começa a dar vôos-solo.
Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria debaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos.
Uma batalha interna hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta pra controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa isso. Ser "desnecessária" é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical... A cada nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeça o ciclo.
O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser "desnecessários", nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

2 comentários:

  1. Eu recebi assim, um email de uma amiga, achei tão lindo e forte que publiquei no meu face, ainda como autor desconhecido, minha irmã Regina, fuçou, fuçou i google e só descansou quando descobriu a verdadeira autora desse texto maravilhoso, muito bem mana, seu blog está demais... (Pat)

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  2. Isso aí, às vezes a gente acha o autor e gosto de valorizar isso, qdo posso!

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